Integridade no Futebol

POR/ENG

By Marina Drummond Machado

Advogada, Especialista de Governança e Compliance do Cruzeiro Esporte Clube - Sociedade Anônima do Futebol.

Lawyer, Governance and Compliance Specialist at Cruzeiro Esporte Clube - Sociedade Anônima do Futebol.


O futebol é um fenômeno cultural e econômico, de abrangência global, que transcende as quatro linhas do gramado. Trata-se de um poderoso instrumento social, de engajamento e inspiração, que reflete e molda comportamentos, com potencial tanto para promover quanto para desafiar a cultura da integridade.

A intensa circulação de recursos financeiros nesse mercado fomenta cenários de empoderamento. Grandes poderes implicam grandes responsabilidades: ao mesmo tempo que trazem vantagens, benefícios, influências e reconhecimento, propiciam ações que podem confrontar os limites da conformidade.

A transparência é vital para a sustentabilidade dos clubes preocupados em conservar a confiança dos torcedores, atletas, patrocinadores e stakeholders. Deve ser pilar de qualquer empresa que almeje fortalecer sua reputação, ser sustentável, mitigar riscos e, essencialmente, atuar como agente formador de valores éticos e sociais. A pergunta é certeira: qual impacto o clube pretende criar na sociedade?

Sem a presença de um árbitro, as partidas de futebol se tornariam caóticas e injustas, com margem a conflitos de interesse e ao desrespeito às regras de conduta. Em analogia, a integridade é a linha tênue que garante que o futebol, em toda sua complexidade, seja praticado, dentro e fora de campo, de maneira justa e transparente.

Uma manifestação de transparência nas partidas de futebol, viabilizada pela tecnologia, foi a introdução do VAR, árbitro assistente de vídeo, criado com o intuito de possibilitar revisões de jogadas, como pênaltis e impedimentos, e de garantir decisões mais precisas. Dessa forma, com a redução de controversas, aumenta-se a confiança nos resultados.

Sob um olhar focado em atletas, percebe-se que cortes de cabelo, estilos de roupa e preferências musicais são exemplos frequentes de comportamentos replicados pela sociedade. A imagem e as preferências desses profissionais são referências nos mais diversos tipos de ambiente, seja em contextos escolares, familiares, organizacionais, entre outros. O futebol inspira através dos atletas.

Superar lesões e retornar ao campo com vigor e determinação, inspira resiliência. Priorizar o sucesso coletivo ao individual, inspira cooperação. Capacitar a equipe e compartilhar experiências, inspira liderança. Cuidar da saúde física e mental, com compromisso, inspira disciplina. Praticar o jogo honesto, com fair play, inspira respeito.

O futebol também inspira através dos clubes: iniciativas ambientais, práticas sustentáveis, incentivo à educação e a programas de engajamento comunitário, assim como campanhas de conscientização sobre inclusão e diversidade, são ações positivas através das quais os clubes influenciam a sociedade. O apoio da alta gestão, definindo o tom para toda a instituição, é fundamental para que a cultura da integridade se sustente e prospere.

Embora os mecanismos de integridade sejam fundamentais, sua implementação enfrenta desafios consideráveis, seja pela falta de recursos alocados para essa finalidade, seja pelo comprometimento muitas vezes superficial com o assunto. Os clubes devem estabelecer códigos de ética e conduta, implementar canais de denúncia seguros, definir políticas internas e investir em treinamentos regulares sobre o tema, além de promover transparência financeira e cooperar com o combate a práticas antiéticas.

Nesse sentido, a ausência de mecanismos de integridade e de uma estrutura eficiente de governança, bem como a carência de controle e de processos internos, corroboram para um ambiente de insegurança corporativa, com a falta de coerência entre as ações e seus respectivos impactos sociais.

À luz do exposto, resta evidente a importância de um programa de integridade consistente e efetivo no futebol, que não se limite a monitorar e a punir desvios, mas que também tenha um papel educativo, evitando que decisões e condutas praticadas por atores envolvidos no contexto do esporte reflitam uma tolerância cultural a comportamentos antiéticos. A alta administração deve liderar pelo exemplo. Sem um compromisso firme com a integridade, o futebol pode facilmente abrir espaço a práticas conflituosas, cenário no qual a conformidade deixa de ser apenas uma responsabilidade jurídica e passa a ser um imperativo ético.

O que está em jogo não é puramente o resultado de uma partida, mas a essência do esporte e sua responsabilidade sobre a sociedade. O legado que será deixado para as próximas gerações será definido pela fundação sobre a qual o futebol se edifica. A integridade deve ser, portanto, uma escolha consciente e definitiva. 




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Integrity in Football

Football is a cultural and economic phenomenon with global reach that transcends the four lines of the pitch. It is a powerful social instrument for engagement and inspiration, reflecting and shaping behaviours, with the potential to both promote and challenge the culture of integrity.

The intense circulation of financial resources in this market fosters scenarios of empowerment. Great power comes with great responsibility: while bringing advantages, benefits, influence, and recognition, it also enables actions that can challenge the limits of compliance.

Transparency is vital for the sustainability of clubs that are concerned with maintaining the trust of fans, athletes, sponsors, and stakeholders. It should be a pillar of any organisation aiming to strengthen its reputation, be sustainable, mitigate risks, and essentially act as a formative agent of ethical and social values. The question is clear: what impact does the club intend to create in society?

Without a referee, football matches would become chaotic and unjust, susceptible to conflicts of interest and disrespect for conduct rules. Similarly, integrity is the fine line that ensures football, in all its complexity, is practised fairly and transparently, both on and off the field.

A demonstration of transparency in football matches, made possible by technology, was the introduction of VAR, the video assistant referee, created with the aim of enabling the review of plays, such as penalties and offsides, and ensuring more accurate decisions. In this way, by reducing controversies, confidence in the results is increased.

Focusing on athletes, one can see that hairstyles, clothing styles, and musical preferences are frequent examples of behaviours replicated by society. The image and preferences of these professionals serve as references in various environments, be it school, family, or organisational contexts. Football inspires through its athletes.

Overcoming injuries and returning to the field with vigour and determination inspires resilience. Prioritising collective success over individual success inspires cooperation. Empowering the team and sharing experiences inspires leadership. Taking care of physical and mental health with commitment inspires discipline. Practicing fair play inspires respect.

Football also inspires through clubs: environmental initiatives, sustainable practices, encouragement of education, community engagement programmes, and awareness campaigns on inclusion and diversity are positive actions through which clubs influence society. The support of senior management, setting the tone for the entire institution, is fundamental for the culture of integrity to be sustained and prosper.

Although integrity mechanisms are essential, their implementation faces considerable challenges, whether due to a lack of resources allocated for this purpose or the often superficial commitment to the issue. Clubs should establish codes of ethics and conduct, implement secure reporting channels, define internal policies, and invest in regular training on the subject, in addition to promoting financial transparency and cooperating in the fight against unethical practices.

In this sense, the absence of integrity mechanisms and an efficient governance structure, as well as the lack of control and internal processes, contribute to a corporate environment of insecurity, with a lack of coherence between actions and their respective social impacts.

In light of the above, the importance of a consistent and effective integrity programme in football becomes evident—one that not only monitors and punishes misconduct but also plays an educational role, preventing decisions and behaviours by those involved in the sport from reflecting a cultural tolerance of unethical practices. Senior management must lead by example. Without a firm commitment to integrity, football can easily make room for conflicting practices, creating a scenario where compliance is no longer just a legal responsibility but becomes an ethical imperative.

What is at stake is not merely the outcome of a match, but the essence of the sport and its responsibility to society. The legacy left for future generations will be defined by the foundation on which football is built. Integrity must, therefore, be a conscious and definitive choice.


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