A integridade como um todo: GRC e ESG no esporte

POR/ENG


By Fernando Monfardini 

Author "Compliance no futebol", Head of Compliance & ESG Atlético Mineiro




Poucos dias antes da catástrofe ocorrida no RS, estava em um “happy hour” com alguns colegas que atuam na área de GRC e ESG. Entre os assuntos debatidos falamos de como fazer para a alta liderança das organizações entenderem o valor de medidas de responsabilidade social e ambiental.

Com várias ideia de “vender” a ideia para a alta administração, eu me vi preso num pensamento repetitivo:


O que mais precisamos ver para “comprar” essa ideia?


O momento é urgente. Não é questão de ser alarmista. Acho que muito pelo contrário, estamos sendo brandos demais com a realidade que estamos enfrentando. Nós estamos longe de todas as metas de controle do clima e na beira do ponto de não retorno!

Quer dizer, na verdade, a gente já não consegue mais esfriar o mundo, apenas interromper a ascendente da temperatura global, que já dá sinais claros de antecipação de todas as catástrofes ambientais repetidamente informadas por especialistas.


Não há lucro que sobreviva a extinção!


O EBTIDA, EBIT, ROE, ROI, CAPEX, OPEX, Lucro Líquido, EV, P/L, PIB e qualquer outra métrica não irá sobreviver a sucessivas catástrofes ambientais ocasionadas pela destruição atmosférica, descontrole climático e perda de biodiversidade.


Os eventos climáticos extremos estão cada vez mais comuns e poderosos, afetando milhões de pessoas. E, como estão ocorrendo de forma mais corriqueira, não teremos condições de agir preventivamente e nem de mitigar os danos que sobrepassarão as localidades afetadas.

O Brasil já é líder em deslocamento de pessoas por desastres ambientais, com 700 mil pessoas que precisaram se deslocar, segundo dados de 2022. Essas informações desconsideram os números das duas grandes enchentes ocorridas no RS em 2023 e 2024.

Neste sentido caminhamos com o esporte, ainda focando nossas atenções em temas importantes que envolvem a gestão do esporte, mas ignorando o sinal vermelho gigantesco que as mudanças climáticas estão dando. 

Focamos muito na melhoria da gestão das entidades esportivas, no combate a manipulação de resultados, doping, corrupção e, em partes, na lavagem de dinheiro, mas sem considerar um aspecto 360º, que envolvem a integridade como um todo.

Todos esses temas são importantes, porém, há mais a ser feito. O esporte é a maior manifestação humana e isso reflete uma responsabilidade grande com nosso planeta e com as pessoas. Precisamos aumentar nossas práticas de integridade no sentido amplo da palavra.

Integridade não pode ser temas específicos. A própria etimologia da palavra é o conceito de ser inteiro. Neste sentido, precisamos olhar para o todo e não apenas para aquilo que é de interesse para a prática esportiva.

Não haverá manipulação de resultados para combater se não houver locais apropriados para competir.


O esporte precisa pegar essa bandeira da proteção aos direitos humanos e meio ambiente tanto para reduzir seus impactos negativos, como também para ser vetor de mudanças a partir da inspiração que esse movimento pode causar.

Redução das emissões atmosféricas, igualdade de gênero, combate ao preconceito, inclusão e diversidade, proteção da água e biodiversidade são temas que podem ser convergidos e inseridos dentro de estruturas de integridade das organizações do esporte.

Temos legislações, compromissos público, frameworks, diretivas e diretrizes suficientes que regulamentam esses temas e que podem servir de subsídio para endereçar as ações das entidades desportivas, tornando suas estruturas de integridade de fato coesas e inteiras.

Os benefícios dessas práticas são vários, incluindo ajudar a mitigar os riscos que envolvem os temas que hoje mais preocupam o esporte, como manipulação de resultados, lavagem de dinheiro e combate à corrupção.

As práticas ESG podem auxiliar a fortalecer as estruturas de governança e melhorar a cultura interna, com melhor comunicação entre os stakeholders e aumento do senso de responsabilidade das ações. A partir da estruturação dessas práticas outras sinergias surgirão, como a relação entre direitos humanos, manipulação de resultados e jogo responsável.

Exemplo que esses temas tangenciam com as práticas ESG é que a recente portaria SPA/MF nº 1.143 de julho de 2024, que dispõe sobre procedimentos e controles internos de prevenção à lavagem de dinheiro a serem adotados pelos agentes operadores de apostas esportivas, trouxe a obrigação de desenvolvimento do programa de PLD/FTP o desenvolvimento de integridade, boa governança e ESG.

Com uma abordagem moderna e integrada, a Secretaria de Prêmios e Apostas trouxe uma visão sistêmica e holística que unifica a gestão da integridade, o que precisa ser uma tendência para todo o mercado esportivo.

Há muito a se fazer? Sim, bastante. Mas não precisamos iniciar tudo de uma vez. Vamos em frente?



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Integrity as a whole: GRC and ESG in sport



A few days before the catastrophe that occurred in Rio Grande do Sul, I was at a "happy hour" with some colleagues who work in the areas of governance, risk management, and compliance (GRC) and environmental, social, and governance (ESG). Among the subjects discussed, we talked about how to make the top leadership of organisations understand the value of social and environmental responsibility measures.

With several ideas on how to "sell" the idea to senior management, I found myself stuck in a repetitive thought:


What else do we need to see to "buy" into this idea?

The moment is urgent. It is not a question of being alarmist. I think that, on the contrary, we are being too soft with the reality we are facing. We are far from all climate control goals and on the verge of the point of no return!

In fact, we can no longer cool the world; we can only stop the rise in global temperature, which is already giving clear signs of impending environmental catastrophes repeatedly reported by experts.

There is no profit that survives extinction!


EBTIDA, EBIT, ROE, ROI, CAPEX, OPEX, Net Income, EV, P/E, GDP and any other metric will not survive successive environmental catastrophes caused by atmospheric destruction, uncontrolled weather and loss of biodiversity.

Extreme weather events are increasingly common and powerful, affecting millions of people. And, as they are occurring in a more common way, we will not be able to act preventively or mitigate the damage that will surpass the affected locations.

Brazil is already the leader in the displacement of people due to environmental disasters, with 700,000 people who had to move, according to data from 2022. This information does not consider the numbers of the two major floods that occurred in RS in 2023 and 2024.

In this sense, we are moving forward with sport, still focusing our attention on important issues involving the management of sport, but ignoring the gigantic red light that climate change is giving. 

We focus a lot on improving the management of sports entities, combating match-fixing, doping, corruption and, in part, money laundering, but without considering a 360º aspect, which involves integrity as a whole.

All these issues are important, but there is more to be done. Sport is the greatest human manifestation and this reflects a great responsibility to our planet and to people. We need to increase our integrity practices in the broad sense of the word.

Integrity cannot be separated into specific topics. The very etymology of the word is the concept of being whole. In this sense, we need to look at the whole and not just at what is of interest to the practice of sports.


There will be no match-fixing to combat if there are no appropriate venues to compete in.


Sport needs to take up this flag of protection of human rights and the environment both to reduce its negative impacts, and also to be a vector of change based on the inspiration that this movement can cause.

Reducing atmospheric emissions, promoting gender equality and inclusion, combating prejudice, and protecting water and biodiversity are themes that can be converged and inserted within the integrity structures of sports organisations.

We have enough legislation, public commitments, frameworks, directives, and guidelines that regulate these issues and can serve as a subsidy to address the actions of sports entities, making their integrity structures, in fact, cohesive and whole.

These practices offer several benefits, including mitigating the risks associated with the issues that most concern sports today, such as match-fixing, money laundering and fighting corruption.

ESG practices can help strengthen governance structures and improve internal culture, with better communication between stakeholders and an increased sense of responsibility for actions. From the structuring of these practices, other synergies will emerge, such as the relationship between human rights, match-fixing, and responsible gaming.

An example of how these issues touch on ESG practices is the recent SPA/MF ordinance No. 1,143 of July 2024. This ordinance mandates that sports betting operators implement internal procedures and controls to prevent money laundering and obligates them to develop an AML/FT programme that integrates integrity, good governance, and ESG practices.

With a modern and integrated approach, the Secretariat of Awards and Betting brought a systemic and holistic vision that unifies integrity management, which needs to be a trend for the entire sports market.

Is there much to be done? Yes, quite a lot. But we don't have to start everything at once. Shall we move forward?



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